A noite sempre jantávamos juntas eu e minha mãe,
na verdade não era bem a noite mas por volta das seis da tarde, um pouco menos,
jantávamos as vezes caladas ,as vezes o papo era bom ,mas, sempre juntas,
eu sentia que a impressionava com as minhas conversas....
eu acho....
Então ela saia para o trabalho e até as onze horas da noite eu ficava tentando me ocupar e esperando...
todos os dias.
Passava sempre as primeiras horas no portão da nossa casa,
a mãe saia ,e eu ficava acenando até que ela não me visse mais ,ela ia pela rua de baixo a da casa da Dina, não gostava de ir pela avenida.
então
eu fechava o portão e sentava numas coisas que tinham empilhadas por ali, já não me lembro mais...
mais tarde quando eu fiquei maior ela deixava eu me sentar pra fora do portão
num banco estreito de madeira que havia na calçada encostado no muro,
o muro era incomodo ,"chapiscado de cimento", rs ,
doía nas costas quase não dava pra encostar,
mas eu gostava de sentar ali.
Por ser na Avenida,
Avenida Brasil, Centro,
eu observava o melhor da cidade,
era a rua de maior movimento,
as quinze para sete os alunos passavam com suas malas apoiadas na cintura,
iam estudar no colégio de baixo o "Rosa Delúcia" e outros subiam, iam para o "Cesar Lattes" o de cima.
de mãos dadas os namorados,
as menina de cabelos molhados deixavam a rua cheirando a shampoo,
lá pela sete e meia eu tinha que entrar,
já escurecia e pronto, de agora pra frente o tempo começava a passar bem devagar.
Eu ia pra dentro... assistia as novelas
fazia a tarefa no sofá sobre um pedaço de fórmica que eu atravessava nos dois braços do sofá e transformava em mesa,
depois que aprendi a ver as horas o relógio passou a andar mais lento....
Eu não sentia sono algum, eu ficava acordada até que
ouvia o barulho do molho de chaves...
era minha mãe .
Ela colocava o cadeado no portão e subia as escadas,
quatorze degraus de cimento,
batia levinho na porta....
Meu avô espanhol, pai dela esticava o braço e alcançava o trinco sem se levantar,
ela entrava...
pronto agora ela vai me dar alguma coisa pra comer,
perguntar se eu fiz a tarefa,
e depois vamos dormir,
ela sempre dorme primeiro eu a escuto ressonar...
está cansada, ela deve ter trabalhado demais hoje.
Mas por fim está ali e eu sou feliz por isso.
*
Saroj
Nenhum comentário:
Postar um comentário