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Inácio Martins, Paraná, Brazil
Ma Anand Saroj

21 outubro 2006

Sábado

Sábado...



Não acredito no acaso e por esse motivo digo-lhe que estou em Inácio Martins por inúmeros motivos que com o passar dos anos vão se tornando cada vez mais claros pra mim.
Inácio é uma cidade alta,fria, tem constantemente uma neblina espessa e um ventinho gelado que parece entrar pela roupa e as vezes gelar até os ossos.Tem poucas árvores ,emboras por aqui tenham muitas árvores...
A vida aqui acontece devagar, há uma certa falta de pressa que caracteriza as cidadezinhas como Inácio,interioranas.
Quando venho a pé pra farmácia,é impossível encontrar uma só pessoa que não seja conhecida,e sempre sorrindo gosto de cumprimentá-las... Principalmente de manhã é bom receber um cumprimento,um aceno, um abraço, até um toquinho no celular vale!
Nesses Últimos dias tenho acordado mais cedo e depois de meditar uns minutos sentada na sala na posição de Lótus, envio reiki , tomo banho,um cafezinho leve e vou trabalhar. As vezes com o cabelo molhado ,então os cheiros vão se misturando, o meu com o do café da casa da Dona Bete, os do Restaurante do Ari,o cheiro do pão fresco da padaria da Neiva... venho sentindo, venho caminhando, respirando,as vezes cantarolando um mantra ,outras vezes uma música que gosto muito que fala de estar próximo ao paraíso...
Bem hoje é sábado são 17: 30hs, tive um momento raro de poder sentar-me sozinha na frente do computador e escrever esse texto... ouço vindo da praçinha aqui na frente da farmácia, já atravessando a rua um terço rezado melancolicamente por um grupo de senhoras que já se reuniam desde as 17:00 hs, elas se beijaram ,tiraram seus terços do bolso e agora rezam... eu ouço a voz delas em coro, dizendo a Ave Maria bem rapidinho...Os filhos e netos balançam no parquinho da mesma praça e eu ouço o barulho das balanças, rangendo, as correntes ainda devem estar quentes do sol.
Hoje foi um dia difícil, tem alguns dias que são... Talvez devesse ir rezar com as senhoras...
Quem sabe rezando eu pudesse entender melhor as vontades de Deus. Alguns momentos sinto-me tão frágil, tão indisposta, tão presa ao passado, talvez presa a lembranças dolorosas de outra
vida, a compromissos anteriores...
Enfim preciso voltar pra casa,voltar pra mim mesma... fazer minhas orações... E segunda recomeçar...

05 outubro 2006

Compreender


Pois não acho que eles compreenderiam...


Os últimos dias foram especiais, e felizes. E um ser humano complicado na sua essência como eu, não poderia simplesmente aceitar a felicidade e normalmente entregar-me a ela sem perguntas; então lembrei-me que quando tenho dúvidas ou sinto o coração querendo sair do peito, ou ainda quando julgo que minhas emoções não seriam entendidas por ninguém se eu as compartilhasse, recorro a um livro que tenho a anos e que virou uma espécie de conselheiro. Trata-se de jogo tanscedental Zen , um livro com 79 cartas com o objetivo de ajudar o leitor a se tornar iluminado...
Não tive dúvidas que deveria confiar na força da natureza, mais uma vez, e não me restava mais outra opção.
Pedi a Deus, como sempre e aos queridos mentores espirituais que não poupam esforços para nos guiar e proteger, orientar e inspirar em momentos como esses.
Respirei profundamente com as cartas entre as mãos e escolhi essa, que compartilho agora com vc.

* * *


A CURA
Este é um tempo em que as feridas do passado profundamente enterradas afloram para ser curadas. A figura dessa carta apresenta-se nua, vulnerável, receptiva para o toque amoroso da existência. A aura que lhe envolve o corpo está cheia de luz e o clima à sua volta, de relaxamento, cuidado e de amor está dissolvendo a sua tensão e sofrimento. Vários lótus de luz aparecem sobre o seu corpo físico e por todos os corpos de energia sutil que os que curam dizem existir em torno de cada um de nós.em cada uma de suas camadas sutis aparece um cristal ou modelo de cura.

*Quando nos encontramos sob a influência de cura já não estamos mais nos escondendo de nós mesmos nem dos outros. Nessa atitude de abertura e de aceitação poderemos ser curados e ajudar outros a serem também saudáveis e inteiros

***
Não,você é quem carrega a sua chaga. Enquanto existir o Ego, o seu ser como um todo será uma ferida. E você irá carregá-la por aí.
Ninguém está interessado em ferí-lo ninguém está de fato esperando para machucá-lo todos estão ocupados em proteger os seus próprios ferimentos. Quem teria tanta energia para ainda querer atingí-lo?
Mas, ainda assim, acontece, porque você está demasiado pronto para ser atingido, demasiado pronto apenas na expectativa que alguma coisa aconteça.
É impossível atingir um homem do Tao. Por quê? Porque não existe ninguém ali para ser atingido. Não há nenhuma ferida. Ele é saudável, curado, pleno. A palavro pleno é bonita. Em inglês ,a palavra" curar" [to heal] vem de pleno [whole], e a palavra "sagrado" [holy] tem também a mesma origem. O homem de Tao, é inteiro, curado, sagrado.
Tenha consciência de sua ferida. Não deixe que piore: cure-a; e ela só será curada quando você se deslocar para baixo, para as raízes. Quanto menos estiver presente a cabeça, tanto mais facilmente a ferida será curada; não existindo a cabeça, não existe a ferida. Viva uma vida sem cabeça. Mova-se como um ser pleno e aceite as coisas. tente isso, apenas por 24 horas: aceitação total aconteça o que acontecer. De repente, você sentirá fluindo em você uma energia nunca antes percebida.
Entendi e sou muito GRATA, imensamente GRATA.

02 outubro 2006

Diante do mar


Diante do mar .


Eu nunca havia saido de Cambira. Nunca mesmo, parecia inacreditável mas eu nunca tinha viajado ou saído de perto da minha família, mais exatamente da minha mãe, a não ser para acompanhar minha vó materna aos passeios que na época eram muito chatos pra mim que não me interessava ainda pelos assuntos das reuniões de amigas da vó Maria. Mas, sempre comportada e disciplinada eu era a companhia ideal pra minha vó, que fazia questão de me pedir pra mãe, e ela sempre dava... Ela era tão brava... mas, não comigo, existia uma certa cumplicidade entre a gente e eu gostava .
Foi então que resolvemos, no final do ano de 1988, minha turma de magistério e eu fazermos uma viagem de despedida e encerramento do curso. Era de verdade nossos últimos dias de escola sempre a mesma turma desde o jardim de infância, e no interior é assim, crescemos juntos e fora alguns que mudaram de cidade , ou alguns novos alunos que entravam pra nossa escola, a grande maioria era de nós mesmos, os de sempre e nos conheciamos com a palma de nossas mãos.
Viajar me parecia assustador, pra praia então... Seria a primeira vez que eu veria o mar.
Não me preocupei muito com a organização das coisas por que sabia que meus pais não me deixariam de jeito nenhum sair da cidade com um grupo de meninas, quase crianças ainda pra passar uma semana em Ipanema, litoral do Paraná, contando com os cuidados de uma só professora ou talvez nenhuma se tudo desse certo. De fato quando pedi autorização em casa minha mãe nem me olhou, fez de conta que eu não estava ali. Numa segunda tentativa dois dias depois ela falou-me do que é ser uma moça direita e de família e que aquele pedido não fazia sentido que a resposta era, claro que não.
Confesso que fiquei arrasada mas não surpresa.
Eu já era moça , trabalhava, a tarde na escola , fazia magistério cedo e cursava Básico em comércio a noite , era responsável , justa , amiga, boa filha, boa conselheira, todas as amigas da minha mãe queriam que eu fosse filha delas... Tinha ótimas notas sem repetir de ano.
Mas... Eu não podia desobedecer e então estava dada minha sentença, e era não.
Pra minha sorte, eu era noiva na época com aliança e tudo, bolo festa de noivado , casa quase pronta pra casar, convites na gráfica, enfim eu era uma tradicional noiva do interior e me casaria no próximo fevereiro, com um vestido lindo, branco é claro, e com o noivo que seria" o filho ", o marido principe encantado, um casamento muito feliz sem dúvida alguma, não fosse a minha vontade de viajar pra praia... Pra minha sorte meu noivo intercedeu por mim e pediu pra o meu pai e mãe me deixarem viajar... e eu ...mal podia acreditar que lá estava , vendo meu primeiro pôr -de- sol diante do mar ... Aquele momento, o cheiro, o som , o vento, meus cabelos eram cumpridos e eu estava ali tão só quanto fui a vida inteira... Eu e o mar, ele me mostrando como era valente e fascinate e eu fascinada ,mal sabia como me tornaria valente depois daquele encontro com o mar.

Voltei pra casa uma semana depois com a aliança de noivado embrulhada num lenço, o mesmo que usei pra chorar quase a metade da viajem, é dificil tomar decisões, principalmente quando seu coração fala de coisas que vc ainda não tinha experimentado, é difícil decidir coisas tão importantes aos 17 anos. Mas quando chega a hora... foi como se o mar tivesse me limpado do medo do pecado, do medo ... do medo... do medo...
Sentei-me na varanda, ao lado do meu noivo... foi o maior nó que já senti em meu estômago, só não foi mais dificil porque minha alma estava repleta de amor e de vida e eu pela primeira vez tive coragem de dizer o que queria, como queria e finalmente como seria. Quando me levantei e pus a aliança na palma da mão dele ,eu vi, em seus olhos todo o entendimento que tem uma pessoa madura e que ama de verdade, ele não me pediu pra ficar ele me deu a liberdade de ser, de ir, ele só chorou ,porque homens de verdade choram, e essa foi uma das primeiras grandes lições que eu aprendi ao me lançar no mar sem volta ...

Pai italiano, só sabe o que é quem tem! Confesso que não me lembro de nenhuma palavra de incentivo nem de confiança...Meu irmão , meu amado irmão colocou nas minhas mãos um cartãozinho e falando baixinho recomendou-me cuidado e disse que estaria sempre preocupado comigo e que se algo desse errado era só ligar que ele imediatamente iria me ver.

O que importa e vale a pena lembrar é que quando cheguei em Curitiba ja era noite, dia 8 de janeiro de 1989, mais 16 dias e eu teria 18 anos! Isso me parecia muito bom.
Meu anjo da guarda me esperava, me acolheu , ajudou-me sem me perguntar absolutamente nada por vários dias, logo estava trabalhando em um laboratório e dividindo um apartamento pequeno, mas aconchegante com outro anjo, e de anjo em anjo em Julho do mesmo ano estava eu na Universidade Estadual de Ponta Grossa, vestibular, era só pra experimentar pra ver como era , não era pra passar, mas eu queria, eu podia, eu merecia,e lá estava eu preparando a mesma mochila com pouquíssimas roupas e chorando a despedida de pessoas que convivi tão pouco tempo que me ensinaram a viver na cidade grande ... em tão pouco tempo...
Talvez eu devesse ter feito Psicologia era meu sonho, ou talvez artes, ou até direito, o sonho do Zé Crotti era ter um dos filhos formado em direito, hoje entendo que ele queria mesmo que meu irmão mais velho fizesse direito, nós meninas, tinhamos só que casar e não fazer nehuma vergonha, já era suficiente...
Farmácia e Bioquímica, eu não sabia nada, tudo era novidade, tinha a sensação de que nunca tinha estudado na vida, sentia falta dos meus anjos, e talvez por isso fui morar em um pensionato sob as regras das esposas de Jesus, que furada!! seis meses de regras e sofrimento, a segurança compensava e eu aceitei ficar ate que minhas asas pudessem se abrir de novo, e me levar pra longe das irmãs.
Era muito cedo pra saber que era farmácia, pra saber o que amiga verdadeira, pra saber o que é perder com dor, pra saber o que ficar realmente só, pra saber procurar no peito a coragem , graças a Deus eu ainda tinha a lembrança daquela noite na frente do mar...
Saroj**