Eu sou

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Inácio Martins, Paraná, Brazil
Ma Anand Saroj

14 setembro 2006

Dia especial

A FORMATURA


Aqui estou eu escrevendo numa folha do caderno de receitas, por não ter nenhum caderno ou papel mais apropriado.
Os anos foram passando e a vida escolar ficou tão distante...
As ocupações do dia-dia, a nova vida profissional, o grande desafio de ser esposa só não maior do que o de ser mãe, foram fazendo com que os papéis e as canetas hora espalhados por tada parte fossem sumindo dos olhos.
Quantas coisas vão ficando no passado, e juro sem saudosismo, me arrependo de algumas dessas coisas que não trouxe para o agora.
Sou famacêutica desde 1993 e quando escrevo isso, leio para ver se me convenso que sou mesmo eu.
Várias vezes durante as aulas na faculdade quando era feita a chamada da classe, eu ficava aflita, pensando que não chamariam meu nome, que tudo havia sido um engano e que eu não poderia mesmo ter conseguido estar entre os 40 colegas com histórias tão diferentes da minha.
Eu não fui criada para chegar tão longe...
Meninas fazem magistério, namoram ficam nivas com bolo, casam, não se entregam a vida, não vivem longe da família, não namoram dentro do carro no portão e principalmente não podem jamais perder o juízo por um amor tão grande que ameace sua memória já tão programada e reprogramada durante anos para não esquecer oque é ser moça de família.
Eu precisava ousar, precisava experimentar a erupção.
Aquárianos são tão livres, eu não podia fugir à regra.
Porque minha mãe tão consenciosa não me programou também para nascer em setembro ou novembro, quem sabe a influência dos astros me fizessem mais obediente ainda.
A verdade é que em 93 eu estava enfeitada, com uma roupa preta , um chapéu preto em baixo do braço e uma faixa amarelo ouro amarrada na cintura, com o coração na garganta, na fila junto com a minha turma para receber meu diploma de farmacêutica, e no momento em que eu o senti nas minhas mãos eu corri os olhos para a arquibancada, procurando minha mãe... Como se ainda ali existisse a dúvida e eu quisesse que a mãe balançasse a cabeça dizendo que eu podia pegar, que era meu mesmo, exatamente como ela fazia quando a vó Augusta aferecia seus doces de compotas e rapidamente eu a procurava para saber se podia ou não aceitar, se aquela era a hora de experimentar o que parecia ser muito bom.
E assim durmi numa noite de dezembro olhando para aquele canudo ao lado de uma linda rosa vermelha, meu passaporte para uma viajem sem volta, para entrar no mundo da dor e da saúde, da recompensa e do amor, da terapia de balcão, onde paciente e doutor revezam o lugar, onde se aprende o que na faculdade não estava no currículo,não deu tempo de ensinar.
Era a hora, e a mãe, eu não pude ver na multidão, mas, acho que ela balançou a cabeça para mim ...e eu aceitei.

3 comentários:

Anônimo disse...

difícil ler suas palavras sem se emocionar... te amo muito mãe, tenho muito orgulho de você. beijoo, amo vcê, minha mãe (:

Anônimo disse...

Muito lindo Márcia, emocionante mesmo.Vc é uma guerreira em tanto!
Parabéns por suas conquistas e pela pessoa maravilhosa que é.

Carla Leticia D. disse...

que lindo tia amei :D