Eu sou

Minha foto
Inácio Martins, Paraná, Brazil
Ma Anand Saroj

04 novembro 2006

Tratamento psicológico

Tratamento psicológico


Lá estava ela mulher feita,estacionando um carro do ano vermelho em uma vaga na frete do prédio de 10 andares.
Vestido rosa e sandália amarrada na perna, delicadamente caminhou do carro à portaria, ao elevador e quando subia até o 9º andar sentiu o seu coração pulsando acelerado, sentiu o calor aumentar, sentiu o cheiro do prédio antigo quando a porta do elevador abriu, e sentiu que anos retrossederam enquanto o elevador subia. Era como se a mulher tivesse ficado no carro e ali, no corredor estava uma adolescente assustada sem saber se devia ir para a direita ou para a esquerda, ou ainda melhor, voltar para o elevador e descer antes que o encontro fosse inevitável.
Uma voz doce perguntou de trás do balcão:
_ A senhora é a Marcia?
_Sim, e colocando-se em pé, sorriu querendo parecer tranquila, dirigindo-se para o balcão.
Água ... Ela precisava de água, a boca seca dificultava as palavras e o calor fazia os pensamentos confusos.
Da janela dava para ver o céu bem azul, dava para ver a praça a igreja as lojas e ela queria poder voar, sair dali queria qualquer coisa que não fosse o encontro.
A me,sma voz doce veio do fundo da sala, de um pequeno corredor:
_Marcia, pode entrar!
Uma porta se abriu, então ela entrou e quando entrou não tinha mais que nove anos, sentou-se na cadeira sem conseguir sentir os pezinhos tocarem no chão...
Arrumou os cabelos com as mãozinhas pequenas, respirou fundo, várias vezes para tentar manter o cérebro ativo.
Desejou que Deus a poupasse...
Desejou que fosse possível acordar ...
Mas nada aconteceu, diante da menina estava uma mulher de olhos e cabelos castanhos, mãos finas dedos longos, delicada mais de gestos firmes, de roupa azul que contrastava com a sala beige e marrom, decorada com bom gosto e com objetos finos que pareciam caros. Ela sorriu educadamente a menina também. Ela ficou séria, e um frio percorreu a espinha daquela criatura que desajeitada começou a responder tantas perguntas...
A mulher de olhos castanhos tinha perguntas cujas respostas só a alma poderia dar, tinha perguntas que o coração não sabia traduzir em palavras...
E durante 100 minutos elas estiveram ali sentadas ....Uma buscando a outra e a outra buscando a si mesma.
Uma desejando questionar, outra desejando entender.
Uma desejando lembrar, outra implorando esquecer.
Uma sorrindo pela oportunidade de progresso, outra chorando por estar em evolução.
O cansaço venceu a menina...
A paz de espírito deu vitória a mulher.
Ambas se levantaram eram da mesma altura, e se abraçaram, cada uma tinha um cheiro diferente.
As duas mulheres se despidiram.
De volta ao elevador, o vestido rosa estava molhado de suor e lágrimas.
As pernas bambas e as mãos trêmulas seguravam a chave do carro vermelho.
Cumprimentou o porteiro e viu que lá fora o sol estava mais claro que os outros dias comuns.
Dirigiu-se ao carro e pronto.
Tudo estava bem.
A menina que a pouco lhe tomara a forma, a razão e as idéias já havia ido embora. Verificou na bolsa onde estava o batom , era necessário recompor a mulher para que ninguém a visse tão ''ao vento'' .
A psiquiatra observou a mulher entrar no carro, fechou o caderno de anotações, que segurava contra o peito enquanto olhava pela janela do 9º andar.
Criaturas complexas e desajustadas ela deve ter pensado...

Nenhum comentário: