Tratamento psicológico
Lá estava ela mulher feita,estacionando um carro do ano vermelho em uma vaga na frete do prédio de 10 andares.
Vestido rosa e sandália amarrada na perna, delicadamente caminhou do carro à portaria, ao elevador e quando subia até o 9º andar sentiu o seu coração pulsando acelerado, sentiu o calor aumentar, sentiu o cheiro do prédio antigo quando a porta do elevador abriu, e sentiu que anos retrossederam enquanto o elevador subia. Era como se a mulher tivesse ficado no carro e ali, no corredor estava uma adolescente assustada sem saber se devia ir para a direita ou para a esquerda, ou ainda melhor, voltar para o elevador e descer antes que o encontro fosse inevitável.
Uma voz doce perguntou de trás do balcão:
_ A senhora é a Marcia?
_Sim, e colocando-se em pé, sorriu querendo parecer tranquila, dirigindo-se para o balcão.
Água ... Ela precisava de água, a boca seca dificultava as palavras e o calor fazia os pensamentos confusos.
Da janela dava para ver o céu bem azul, dava para ver a praça a igreja as lojas e ela queria poder voar, sair dali queria qualquer coisa que não fosse o encontro.
A me,sma voz doce veio do fundo da sala, de um pequeno corredor:
_Marcia, pode entrar!
Uma porta se abriu, então ela entrou e quando entrou não tinha mais que nove anos, sentou-se na cadeira sem conseguir sentir os pezinhos tocarem no chão...
Arrumou os cabelos com as mãozinhas pequenas, respirou fundo, várias vezes para tentar manter o cérebro ativo.
Desejou que Deus a poupasse...
Desejou que fosse possível acordar ...
Mas nada aconteceu, diante da menina estava uma mulher de olhos e cabelos castanhos, mãos finas dedos longos, delicada mais de gestos firmes, de roupa azul que contrastava com a sala beige e marrom, decorada com bom gosto e com objetos finos que pareciam caros. Ela sorriu educadamente a menina também. Ela ficou séria, e um frio percorreu a espinha daquela criatura que desajeitada começou a responder tantas perguntas...
A mulher de olhos castanhos tinha perguntas cujas respostas só a alma poderia dar, tinha perguntas que o coração não sabia traduzir em palavras...
E durante 100 minutos elas estiveram ali sentadas ....Uma buscando a outra e a outra buscando a si mesma.
Uma desejando questionar, outra desejando entender.
Uma desejando lembrar, outra implorando esquecer.
Uma sorrindo pela oportunidade de progresso, outra chorando por estar em evolução.
O cansaço venceu a menina...
A paz de espírito deu vitória a mulher.
Ambas se levantaram eram da mesma altura, e se abraçaram, cada uma tinha um cheiro diferente.
As duas mulheres se despidiram.
De volta ao elevador, o vestido rosa estava molhado de suor e lágrimas.
As pernas bambas e as mãos trêmulas seguravam a chave do carro vermelho.
Cumprimentou o porteiro e viu que lá fora o sol estava mais claro que os outros dias comuns.
Dirigiu-se ao carro e pronto.
Tudo estava bem.
A menina que a pouco lhe tomara a forma, a razão e as idéias já havia ido embora. Verificou na bolsa onde estava o batom , era necessário recompor a mulher para que ninguém a visse tão ''ao vento'' .
A psiquiatra observou a mulher entrar no carro, fechou o caderno de anotações, que segurava contra o peito enquanto olhava pela janela do 9º andar.
Criaturas complexas e desajustadas ela deve ter pensado...
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